sábado, 20 de novembro de 2010
Mate um nordestino
Difícil compreender a humanidade. Mesmo o cronista, devotada à observação das pessoas, sente dificuldade em decifrar certas criaturas. A estudante de Direito Mayara Petruso complica essa tarefa ao alardear a ideia de que nós, nordestinos, não somos gente e que devemos ser afogados para o bem de São Paulo. Tudo porque, no entendimento dela, o Nordeste elegeu Dilma Rousseff (PT) presidenta.
As seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Pernambuco e do Ceará querem que a moça responda pelos crimes de racismo e de incitação ao crime. A OAB de São Paulo, onde a dita cuja se inscreverá, caso termine o curso e passe no exame específico para aquele fim, endossa o pleito das coirmãs, afirmando que não se pode tolerar racismo, xenofobia, preconceito nem intolerância.
Mais importante do que as opiniões institucionais é a reprovação social a gestos medonhos dessa natureza. Os brasileiros, exceto os partidários do neonazismo, repudiaram em peso a atitude. Daí, acossada por críticas oriundas de todos os recantos do País, a própria autora apagou as mensagens ofensivas, que estavam no Twitter e no Facebook, excluindo seus perfis dos brinquedos virtuais da moda.
Pobre moça que nos odeia sem ao menos conhecer-nos. Talvez até seja descendente de um de nós e se afogue conosco na limpeza étnica sugerida. Francamente, sinto muita pena, porque na juventude todos cometemos erros e alguns nos marcam para a vida inteira. Quando amadurecer, Mayara Petruso ainda carregará no rosto, como que tatuado na testa a ferro e fogo, o eco das palavras irrefletidas.
Sou nordestino da cabeça chata, do pé rachado e de sotaque carregado, nascido no sertão de Mossoró-RN à margem setentrional de um rio seco. Votei em Dilma nos dois turnos, sem medo de ser feliz nem de ser assassinado por lunáticos separatistas. Gosto de São Paulo, onde estive por várias vezes; de sua noite, que sacia meus desejos; e de seu povo, que sempre me acolheu com todo carinho.
Não mudo de opinião nem que a jovem “tucana” ou qualquer outra criatura de mentalidade xenófoba volte a escrever baboseiras, afirmando que devo ser morto por minha origem e meu pensamento político. Essa gente faz parte de uma minoria que se nutre de raivas idealizadas, sem perceber que, assim como diz o poeta Jorge Luís Borges, odiar alguém é se tornar “de algum modo o seu escravo”.
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5 comentários:
Gostei das informações da OAB. Mas mesmo diate disso continuo triste ao saber que em pleno séc. 21 ainda há gente que pense assim. E pior, a infeliz ainda se chama Mayara.
Mas é isso. Ironia ou não, foi pelas bandas de lá que se votou em Tiririca... E a maior votação de todos os tempos...
Seja o que God quer...
Parabéns pelo belíssimo "cuspir" de palavras...
Bjks,
Cid, homi, nois tá mermo cum razão. Apois, a dita cuja é bem capaiz, vice?! di tê inté votado no Tiririca qui, ainda purriba, tem famia aqui nas bandas dos Assu. Essa moça, Deus vaí perdoá e, nóis, qui nunca fugimo dum´a briga, é quem vai maicá a testa dela quinem o tá do Zorro ferrava o povo com quem ele lutava.
Grande texto, como sempre amigo velho.
MEU CARO CID, VOCE FOI MUITO FELIZ NAS SUAS PALAVRAS, POIS ESSA JOVEM MAYARA NAO PASSA DE UMA PESSOA REPRIMIDA ASSIM COMO MUITO PRA BANDA DE CÁ.
SOU POTIGUAR DO MEU APODI COM MUITA HONRA COM FALA VOCE, PE RACHADO, CABEÇA CHATA MAIS SOU BRASILEIRO COMO A TAL JOVEM.
POIS É MEU CARO EU MORO AQUI A MAIS DE 3 DECADAS E JA PRESENCIE VARIAS VEZES PRECONCEITO CONTRA AS PESSOAS DE NOSSA ORIGEM, QUE É UM ABSURDO. AGORA PERGUNTO SE NAO FOSSE OS NORDESTINO QUE DE CERTA CONTRIBUIRAM PARA O DESENVOLVIMENTO DE SAO PAULO COMO SERIA ESSA GENTE.
PARABENS
Perfeito... Parabéns!!
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