segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Areias coloridas



A garrafinha de areia colorida custou-me R$ 6,00. Preço singelo para uma obra de rara beleza. A casinha, o coqueiral, as dunas, o céu, o mar. O artista anônimo merece todos os elogios.

Meninos, eu e meus amigos saíamos pelos morros - o morrinho, o das sete cores, o labirinto - com palitos de coqueiro e vidros vazios de bebida ou tempero. Era o maior barato fazer ondinhas com terras vermelhas, amarelas, azuis, róseas, sempre ornadas com estactites.

Ah, o preto, o prata e um verde escuro conseguíamos à beira mar.

Desenho nenhum, que ninguém do grupo nasceu com o necessário talento. Mesmo assim, vendíamos o produto de nosso artesanato aos tios, revertendo o lucro em picolé e insumos para construção de pipas.

Nem sei onde os artesãos contemporâneos adquirem matéria-prima. Há anos, ouvi de Josefina, inventora dessa arte, que ainda era possível extrair tais insumos em quintais de casas construídas nos morros outrora livres, imponentes, hoje domados e humilhados pela civilização.

Tibau perdeu o matiz, roubaram-lhe sem dó nem piedade. O colorido que se envazilha para deleite de visitantes e saudosistas deve ser na maioria fabricado.

Bons tempos que a devastação arrancou dos nossos filhos e sobre os quais os nossos netos lerão com certa desconfiança.

8 comentários:

Ancorada disse...

Revisitei minha infância lendo esse texto. Minhas garrafas prediletas eram as de leite de coco, eram mais graciosas e pequeninas.

Deu saudade de Tibau sem condomínios, Tibau dos morros...

Iuska Freire

Ancorada disse...

Revisitei minha infância lendo esse texto. Minhas garrafas prediletas eram as de leite de coco, eram mais graciosas e pequeninas.

Deu saudade de Tibau sem condomínios, Tibau dos morros...

Iuska Freire

Anônimo disse...

Esse texto me fez reviver alguns momentos de minha infância, nos meses de janeiro e fevereiro, quando meu irmão, primos e eu íamos, com nossos avós, para Tibau.
O primeiro passo era catar nos lixos as garrafinhas vazias. As menores e mais claras eram as mais preciosas. Depois tínhamos que lavá-las e colocá-las para secar, de cabeça para baixo, no quintal de nossa casa. Enquanto isso, saíamos, em comboio, com sacos e latas de leite vazios, para os morros em busca das areias coloridas. Cada cor em sua vasilha. A arte, desenhada apenas com palitos de picolés, consistia apenas em morros e era feita em casa. No fim de tudo, o pingo de vela para lacrar a garrafa.
Ah..., no labirinto, falava-se em Dente de Ouro e Urso. Bons tempos!
Dave Rosado.

Anônimo disse...

Onde tem "palito de picolé", leia-se "palito de coqueiro".
Dave Rosado.

Canto de Página disse...

Iuska, Dave, obrigado pelos comentários. As lembranças de vocês enriquecem a narrativa do blog.

Cid

João Bosco Oliveira de Sousa disse...

Caro amigo Cid, Parabéns por reavivar as lembranças de nós mossoroenses-tibalenses de um passado que não volta.Como eram agradaveis as aventuras nos morros do Tibau.Vôcê foi brilhante com a postagem. Um abraço do Professor João Bosco de geografia O seu Amado Mestre.

professorjbosco.blogspot.com

Canto de Página disse...

Amado Mestre, obrigado pela visita.

Cid

Anônimo disse...

Eu também cheguei a conhecer um Tibau de natureza intacta, com aquela duna imensa na entrada do vilarejo, com as vertentes etc. Se hoje temos o Tibau que temos devemos reconhecer que nós veranistas de Mossoró colaboramos por este Tibau que hoje temos.Nós
Mossoroenses deviamos tomar a iniciativa e lutar para que esta Vila nao seja mais devastada do que já estar.