sábado, 6 de junho de 2009

Esporte predileto



Parece mentira. Após séculos de sedentarismo, voltei a andar de bicicleta. Toda noite monto a magrela e saio por aí, zanzando pelas ruas de Mossoró. Aos domingos, o horário é o da manhã, sempre acompanhado de Samara, afinal foi ela quem me colocou nessa, lembrando-me, após uma quase explosão de colesterol e triglicéride, que, na infância, aquele era o meu esporte predileto.

Verdade. Do final dos anos 1970 para o início da década de 1980, o Nova Betânia, longe de ser o bairro chique e valorizado, era apenas o bucólico Rabo da Gata. Naqueles tempos, os meninos das imediações improvisavam pistas de bicicross nas ruas de barro vermelho e em terrenos baldios. Sofri tantas quedas transpondo obstáculos que as marcas se perpetuam em meu pobre corpo.

Falando em quedas, parêntese: saí de casa pilotando uma BMX, daquelas com tanquinho amarelo encobrindo o varão, rumo à residência da moça bonita que me prometera um beijo, o meu primeiro de língua. Cheguei às 20 horas em ponto, conforme acertado na tarde do mesmo dia, e saí cerca de 30 minutos depois, todo vaidoso, sentindo-me homem no fervor da pré-adolescência.

Tanta felicidade por haver deixado a infame condição de “BV”, sigla contemporânea que significa “boca virgem”, deu-me, no entanto, uma espécie de amnésia: esqueci-me de que a roda frontal estava apenas encaixada no garfo, sem parafusos, e empinei a bicicleta. Vi quando o aro se soltou e não vi mais nada, a vergonha pela queda na frente da menina me deixou completamente cego.

Vinte e tantos anos depois, arrastado ao comércio pela patroa, comprei as peças e mandei montar outra tralha, mas sem grandes expectativas. Nos primeiros exercícios, mal-alcancei a marca dos mil metros e os bofes já estavam saltando-me pela garganta, sem mencionar os testículos dormentes e a dorzinha ridícula, filha-da-mãe, na ossatura do mucumbu. Constrangedor, vergonhoso.

Superada a morrinha inicial, pega-se embalagem e não se quer parar. A marca agora é de no mínimo 10 quilômetros em dias úteis e cerca de 20 aos domingos. Pouco diante dos trajetos de ciclistas experientes, a exemplo do poeta Antônio Francisco, que, diga-se de passagem, acaba de lançar seus 7 Contos de Maria, com viagens até Natal. Bastante, contudo, para quem ensaia o recomeço.

4 comentários:

Anônimo disse...

Bom Dia ! grande mestre voce parabéns pela volta e ai me pergunto pro que não consigo voltar tenho a menos de 300 mts do meu ap. um clube que pertence aos funcionarios da prodesp. com picina quadra esportiva campo de futebol academia e não consigo retornar nem para caminhar prefiro ficar
descutindo prefiro ficar descutindo uma saida para o pos mula porque tem que existir não e possivel continuar como esta e em quanto isso minha barriga cresse o colasterol aumenta e a pressão sobe e diminui a pespectiva de volta para o meu querido Apodi se eu tivesse uma Samara com certeza ja teria voltado mais quem sabe um dia eu volto, obrigado grande mestre CID.

Canto de Página disse...

Quando você estiver no RN, poderemos viajar de Mossoró a Apodi de bicicleta. Hahahah

Anônimo disse...

Cid, tudo bem?
Valeu pelo treino de hoje, fiquei contente de te esclarecer que os seus 10 km que você estava pedalando eram na realidade 20 km ou mais, seu velocímetro está configurado errado. Foi muito bom o treino e o papo, vamos marcar uma viagem!
Sds
Gilvan Lira
gilvan@jodiesel.com

Canto de Página disse...

Oi, Gilvan.

Mais contente estou eu. Pela manhã fiz a conferência no carro e verifiquei
o que você havia dito: um trecho que na bicicleta marca 700 metros é, na
verdade, de 1.100. Diferença superior a 50%. Mandarei hoje mesmo
regular o equipamento.

Sim, pode marcar a viagem.

Obrigado e grande abraço,

Cid